O adensamento demográfico e o aumento da frota de automóveis são uma realidade cada vez mais presente nos centros urbanos. Por consequência, a redução da mobilidade, com o entupimento das vias de trânsito, tem tornado as pessoas mais estressadas e suscetíveis ao conflito, no ir e vir.
Pécias procura ser um colaborador para a melhora dessa situação. Usa seu carro de forma mais seletiva e eventual. Ele o deixa em casa por cinco dias da semana e vai trabalhar de ônibus. É perseverante nesse propósito, porque barreiras não faltam. Os ônibus são poucos e os usuários, muitos. O estresse, a impaciência e a educação limitada compõem o ambiente que é desafiador para o exercício da cidadania.
Pisar no pé dos outros, empurrar-se como quem disputa luta romana e sentar-se ocupando mais que uma vaga no banco, são apenas algumas das muitas inconveniências. Tanto que caberia à companhia responsável pelo transporte coletivo em ônibus, publicar um manual ou guia para o usuário. Isso, certamente tornaria a convivência melhor, nesse modo de transporte. Por exemplo, evitaria discussões e até brigas entre usuários e às vezes entre estes e o motorista ou o cobrador.
Pécias pensou que, se existisse um manual para tentar a ordem no interior dos ônibus, o conteúdo poderia ser mais ou menos assim:
Ônibus - uma oportunidade para a boa convivência
Ao sinalizar para o coletivo, no ponto, a fim de embarcar:
Procure ver à distância suficiente e acenar com o braço estendido para que o motorista tenha o devido tempo e espaço para parar com segurança. (Uma vez em que o sujeito fez sinal com o pé e a perna, o motorista passou direto, como resposta ao suposto deboche.)
2. Respeite as vagas nos assentos.
Se reservadas para idosos, gestantes, obesos ou portadores de deficiência, sente-se se for um deles. Ou, se não for, sente-se desde que não haja nenhum desses presentes para ocupar os respectivos lugares. Havendo essas pessoas e não tendo outros bancos para você, fique em pé.
E, em qualquer circunstância, quando sentar-se, ocupe apenas o seu lugar, sem abrir as pernas, sem se esparramar e sem se escorregar, para não tomar o lugar do outro. (Trasanteontem, por ter insistido nesse desrespeito, um rapaz foi empurrado para fora do banco e caiu sentado no corredor do veículo.)
3. Controle o volume dos sons.
Em conversas, mantenha o volume da voz apenas para que seu interlocutor o ouça, seja ele outro usuário ou alguém ao telefone celular.
Não cante, a não ser que seja profissional e tenha sido contratado, pela empresa de ônibus, para isso. Ou ainda, se todos os usuários solicitarem, desde que não atrapalhe os trabalhos do condutor e cobrador;
Ao ouvir música ou qualquer gravação sonora, utilize fone de ouvido. (Tem indivíduos que acham que se eles gostam de um tipo de música, os outros devem gostar também. E estes costumam ser, justamente, os que apreciam as músicas de qualidade mais duvidosa.)
4. Em pé, também mantenha a postura:
Não fique no meio do corredor, em relação à largura. Poste-se à margem, mais próximo da fila de bancos, de modo que outra pessoa possa ficar na margem oposta e ainda possibilitar a passagem de uma terceira entre os dois, sem empurrões.
A postura no corredor deve prever que não se encoste a genitália no ombro de quem esteja sentado. Nem de ninguém. (Tal ato consiste numa grosseria, desrespeito e afronta, mesmo com roupa, é óbvio. Agora, sem estar vestido então, é razão multiplicada para imediatamente se chamar a polícia. A princípio, para se impedir um linchamento.) Para tanto, o passageiro em pé, deve postar-se na direção logo após o assento anterior.
Mantenha as portas e seus acessos livres. (Sob pena de ser empurrado, sem querer talvez, por alguém que vai descer e te leva junto, mesmo sem escolher tua companhia.)
5. Os odores devem ser suaves ou neutros:
O excesso de perfume ou desodorante pode ocasionar incômodos e náuseas;
A falta de asseio os ocasiona com certeza.
6. Na catraca.
Procure ter à mão o dinheiro trocado ou, melhor ainda, o cartão de transporte para ser lido pelo sensor que libera a catraca (Porque tem pessoas que guardam o dinheiro na meia e em notas graúdas. E quando estão na catraca, com uma fila atrás deles que vai até o lado de fora do veículo, é que vão sacá-lo. Com os passageiros à espera da realização de sua peripécia, também nos dias de chuva.)
7. Ao caminhar dentro do ônibus:
Deve-se pedir licença e, se possível, agradecer.
Não levantar os pés para transitar nos corredores entre as pessoas que também estão em pé. Movimente-se deslizando os pés, a fim de não sujar, com seus solados, os calçados e as calças dos outros.
8. Ler:
Leia seu próprio livro, jornal, revista etc.
Não bisbilhote o que os outros estão lendo. Essa curiosidade não é inteligente, mas invasora, grosseira e indevida.
9. Ao tossir ou espirrar:
Jamais tussa ou espirre sem apor um anteparo, qual seja, preferencialmente o meio do braço, dobrando-o. (Esta técnica foi comprovada experimentalmente, como a mais eficaz na retenção de vestígios da tosse ou do espirro. Trabalho este realizado pelos profissionais em efeitos especiais Adam Savage e Jamie Hyneman, no programa de televisão estadunidense Caçadores de Mito, exibido no Brasil, pela TV Cultura.);
Caso use um lenço, que ele seja alojado com exclusividade num bolso ou compartimento da bolsa. Assim, não contaminará a mão ou outros objetos;
Apenas use a mão em último caso. Ela só é menos pior do que não se usar nada, como o que espirra ou tosse livremente. Mas, se vier a usá-la, que seja a esquerda. Pois, se for a direita, o contato ao cumprimentar os outros, será ainda mais contaminante. Embora a esquerda também deixará um tanto de bactérias por onde tocar.
E quando escorre, pelas vias nasais, a coriza ou o catarro — em vez de ficar sugando sem parar — procure assoar o nariz, com um lenço. E se este for de papel, não o jogue pela janela e nem no soalho do coletivo, e sim guarde-o para depositá-lo depois numa lixeira . Se alguém pensa que é charmoso ficar sugando pelo nariz, esqueça. É deselegante e desagradável.
10. Dormindo:
Ao que dorme com a boca aberta, nem adianta dizer que fique alerta, pois está fora de si. Mas enquanto está acordado, convém saber que, além de produzir uma horrenda cena, com a boca escancarada, ainda corre o risco de engolir uma mosca, ou um gafanhoto. É..., pode ser difícil, todavia gafanhoto existe, assim como janelas e bocas abertas, de modo que tudo é possível.
E, para não passar do ponto que vai descer, peça para alguém acordá-lo ou arrisque pôr o celular para despertar. Quem sabe você acorde antes do seu ponto?
11. Quando for desembarcar:
Antes de chegar ao seu local de desembarque, mova-se com tranquilidade e tempo até a porta de saída.
Sinalize ao motorista com a antecedência necessária para que ele possa parar com facilidade, conforto e segurança.
É isso. E alguns desses cuidados servem também para fora do ônibus. São bem-vindos nas calçadas, nos interiores das casas, nas lojas e nos locais de trabalho. Dessa maneira, o ir, o vir e o ficar, podem influir mais para o bem-estar. O bom senso, como se vê, não é comum. Porém, o conformismo com o mal não pode prevalecer e a iniciativa, uma hora, alguém tem que ter.
Fica essa ideia para cada companhia responsável pelo transporte em ônibus. Enquanto isso, ao usuário que teve a paciência desta leitura, a sugestão para fazer sua parte. O benefício é direto, pelo comportamento que favorece a convivência e indireto, pelo exemplo que sempre o acompanha.